terça-feira, 16 de junho de 2009

Para sempre

Alerto o motorista, já estamos chegando. Vou entrar novamente na sua casa. Você não me espera. Ou talvez. Para mim, será um susto. Não pensava em voltar aqui. Eu queria. Mas nosso último contato me tirou qualquer possibilidade. Não achava que você me amasse. Mas acreditava que era possível. Você deixou bem claro. Nunca. Recuei humilhada. Catei minhas lágrimas e levei para outro lugar. Longe. Eu ia morrer. Seu desprezo me acordou. Melhor viver com essa chaga. Melhor viver. Tratei de ter filhos. De outros. Usei meu amor em novas pessoas. Parti minha alma em pedaços e me reconstrui. Abstraí suas teorias. Abortei sua memória. Esqueci você.

Foi por isso que quando o telefone tocou eu disse quem? A pessoa repetiu seu nome e eu disse não conheço, nunca vi. Então, ouvi em outra voz as suas palavras. Cuide-se. Estão endereçadas a você, ela disse. Seu rosto me encarou com a mesma ordem daquela última vez: Cuide-se. Foi o que eu fiz.

Diferente de você. Que agora só tem a mim. Mesmo depois de vencido o seu tempo. Quando não fará mal a mais ninguém. Talvez aos vermes.

(livremente inspirado no trabalho de Sophie Calle)

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