terça-feira, 30 de setembro de 2008

Mudança

Encaro o que vier, depois que entendi que meu lugar é sempre onde estou, que complicar é um defeito de fábrica, que podemos estar hoje aqui e amanhã virar de cabeça para baixo, porque, afinal, somos feitos da terra, do barro viemos e a ele voltaremos, somos parte do mundo, e, se não temos raízes, alguma coisa isso quer dizer.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Carma

Testar o destino é perguntar para uma criança o que ela quer ser quando crescer. A resposta é sempre fácil, mas ninguém disse que cumpri-la seria. 

Manutenção

Parada em frente à porta, fiz a contagem regressiva e entrei. Todo mês era a mesma coisa. Jurava que não voltava mais. Sou fraca, sabe como é. Mas não tinha como fugir. Muita testosterona para uma mulher. E pouco silicone.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ausência

Os dias se diluem na semana da mesma forma que eu finjo que estico as minhas horas, para chegar à conclusão no final de que tudo não passa de um embuste, um engano calculado de quem não quer enxergar sabores diferentes dos de sempre, mas que prefere ignorar as próprias papilas gustativas e seus caprichos, porque não acredita na própria capacidade de trocar o certo pelo inesperado. O improvável é o objeto de desejo. Mas, para que complicar, se a gente pode simplificar?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Virada

E ontem que eu achei que a vida era diferente, mal sabia eu que tudo volta ao mesmo lugar, mas não em círculos, uma coisa mais para espiral, andar acima, andar abaixo, mas meio familiar, com cara de que tá começando de novo uma coisa que você já fez antes mas que não sabe bem como se desligar dela.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Aos 12

O dia era rosa, às vezes verde, o vento era mais quente, bicicletas cortavam ruas no meio, saída da escola era de mão dada, vida era em casa, ouvia-se música no quintal, a mangueira cheirava a flor, a varanda a sabão de coco, a hera se confundia com o muro, chuva era a mesma coisa que festa, criança era sempre no plural e problema no diminutivo. 

domingo, 7 de setembro de 2008

Carneiro

- Que lugar é esse?
- Você nunca entrou aqui?
- Não. É tão perto da sacristia...
- Eu sei.
- Você não se importa?
- Acho perfeito.
- Tenho medo.
- Segura a minha mão, querida.
- Reza comigo?
- Sempre.
- Fica perto de mim.
- É o que mais quero.
- Não entendo a perseguição da Reverenda.
- As pessoas temem o que não conhecem.
- Mas o que sentimos é tão puro...
- Nada me preencheu mais.
- Sinto tanta paz do seu lado.
- Eu também. Agora vamos tomar nosso chá.
- Podemos nos deitar?
- Na verdade é o que temos que fazer.
- Deixa eu pôr minha cabeça no seu ombro?
- Claro, vem aqui.
- Promete que nunca mais vamos nos separar.
- Prometo. Agora dorme, meu amor.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Dona Celestina

Sentido? Por que precisamos de um? Será a vida tão explicadinha? O nosso propósito é sobreviver. E já é muito. Esse negócio de ficar procurando um motivo é para quem tem dinheiro sobrando e não sabe o que fazer com ele. Eu, meu filho, eu tenho que trabalhar muito. Ficar pensando não vai botar comida no prato dos meus filhos. Não tenho nem marido para me ajudar, não tenho quem olhe por mim. Deus? Se ele existe, anda muito ocupado, porque por aqui ele ainda não apareceu. E eu não tenho tempo de ficar indo à igreja, meu destino é lavar a roupa da humanidade. Se você acha que essa é a minha missão, que seja, moço. Vou lá discutir? Não sei das coisas difíceis, não estudei. Nem ler eu sei. Mas comida aqui não falta. Que a dor da fome eu conheço. Enquanto eu tiver braços, não falta. Se precisar, vendo a alma.