Dois

- Que susto!

- Que houve?

- Você chegou muito quieta.

- Eu sempre fui assim.

- Acho que não consegui me acostumar.

- Você sempre levou susto?

- Não me lembro.

- Como você pode não lembrar?

- É que nunca pensei nisso.

- Sobre o efeito que eu causo em você?

- Sem dramas, vai.

- Puxa, mas isso é importante!

- Para com isso.

- Significa que você não presta atenção em mim.

- Não é verdade.

- Você não se importa.

- Afinal, o que você veio fazer aqui?

- Não muda de assunto.

- É sério, você veio me dizer alguma coisa?

- Sim.

- O que?

- Não lembro.

- Como é que é?

- Não lembro, mas a culpa é sua. 

- ....?

- Fiquei muito chateada com o seu pouco caso, acabei esquecendo.

- Acho que você tem razão.

- Sobre o que?

- Eu realmente não dou importância pra você.

- Então você reconhece!

- Pra mim chega.

- Ei, onde você vai?

- Cansei de levar susto com você.

A volta II

- Então estamos conversados?

- Sobre o que?

- Nós.

- Precisamos resolver essa situação.

- Mas não foi o que acabamos de fazer?

- Você precisa decidir.

- Eu já fiz isso.

- Não posso continuar nesse meio do caminho.

- Você não tá me ouvindo?

- Pensando bem, não vou esperar mais.

- O que você vai fazer?

- Vou embora. Não aguento mais esse seu lado infantil.

- Que lado?

- Esse de não ser capaz de radicalizar, de agir sem pensar.

- Mas é o que eu estou fazendo!

- Foi bom enquanto durou.

- Pelo amor de Deus, não vá embora!

- Vai ser bom pra você. Quem sabe te faz crescer.

- Isso é loucura!

- Cansei.

- Tá bom! Você venceu. Eu paro de dormir com meu ursinho.

A volta

- Pois não?

- Tudo bem?

- Eu te conheço?

- Claro.

- De onde?

- Não lembro.

- Então, como você sabe que te conheço?

- Sabendo.

- Como assim?

- Difícil explicar.

- Tô ouvindo.

- Tem uma coisa meio familiar.

- Física?

- Também.

- Mas tem a ver com aparência?

- Com cheiro também.

- E era bom?

- Aí é que tá. Não tenho muita certeza.

- E agora?

- Acho melhor a gente começar de novo.

- Começar o que?

- A gente.

- Mas eu nem sei quem é você.

- Vai ver o problema é esse.

Angústia

Não identifico o que você quis dizer quando jogou a tinta na tela, tampouco entendo a silhueta do quadro na parede, uma provocação para pessoas como eu que se julgam inteligentes, mas que não acreditam nos efeitos individuais de uma maçã sobre a mesa, o mundo precisa ser racional, vamos ser razoáveis, ninguém vive dando passos no ar. Para que acordar os monstros, afinal? 

Paradigma

Gosto não se discute. Inventa-se.

Aniversário

Ano novo atrás de ano novo. Começar com idade nova é sempre uma renovação dupla. Mais perto dos 40, mais longe da inocência, quem sabe um pouco nostálgica. Talvez. Brindo a cada ano. 

Apago as velas e deixo para trás tudo o que já foi. A cada segundo, uma vida diferente. Em cada vela, uma fase que se encerra. Mas que nem sempre eu fui capaz de terminar.

Sampa em janeiro

60 quilômetros por hora.

Pequeno engano

Gastou todo o repertório romântico durante o sexo. Se pelo menos tivesse dito o nome certo.

E que venha 2009

Dei adeus ao ano velho sem desprezo, porque ele foi bom enquanto durou, e o ano novo já entrava pela janela direto para os meus lençóis. Tanta energia sempre me deixa assim, cheia de tesão.