segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Zé Carabina
Não é possível. Isso nunca. Comigo não. Verônica é uma mulher de classe, não faria esse papel. Só pode ser mentira. Calúnia. Inveja, só pode ser. Logo com o Rogério, vê se dá para acreditar. Ele é gay, eu tenho certeza. Olha as roupas que ele usa, os sapatos, o perfume. Gay. Por isso eles se dão tão bem. Ela sempre adorou moda. Vive tagarelando os nomes das marcas que gosta e se irrita quando eu digo que não conheço. Tá certo, ela mostra todos os dentes quando ele chega. Mas é porque, com ele, ela fala dos desfiles, das modelos, dos estilistas. Eu sempre saio de perto, não tenho paciência para esse assunto. Será que é fingimento? Não posso ser tão cego, nem tão burro. Ninguém finge bem assim. E alguma mulher pode se interessar por um sujeito efeminado daquele? Não, não. Ou pode? Eu vou tirar essa história a limpo, ah se vou. Que se for verdade escurraço a vadia hoje mesmo. Quem ela pensa que é? Usa um monte de roupas caras, bando de pedaços de pano rasgado que custa uma fortuna e se acha melhor do que eu? Sempre foi rica, a pele é acostumada às sedas. Deve ser por isso que é tão macia. E como cheira bem. Quando junta o cheiro com a voz, então, me desequilibro. Parece até bruxaria. Vai ver foi isso que pegou o Rogério. Aquela consegue tudo o que quer, no mínimo enfeitiçou o pobre. Rico, na verdade. Sempre foi também. Eles são da mesma origem. Eu é que fico de fora. Nasci bronco, vou morrer bronco. Mas sempre fui trabalhador. Insistente. Teimoso. Aprendi a me defender, custasse o que fosse. Tanto fiz que também ganhei dinheiro, fui pras rodas. Virei a alegria dos outros. Conto as histórias da minha carabina, eles riem com a cabeça para trás. Perdi a conta de quantas vezes tive que repeti-las. Acho que ela casou comigo porque achou divertido viver com um pistoleiro. Quero ver se ela vai achar graça agora.
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Um comentário:
Acho esse seu texto muito bom. Desde aquela vez que vc o leu no sarau. Gosto muito.
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