sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Realidade aumentada

Ainda carrego o sonho da noite passada. Se é que um dia foi sonho. O quarto tem um cheiro estranho, traz recordações ao meu corpo. Deixo-me levar pelos efeitos sem pensar em nada. Uma frase me chama de volta. Desde quando me tornei essa pessoa? Não que eu consiga me lembrar de quem eu era. Rolo na cama, enrosco-me nos lençóis, a febre me domina. Um arrepio de prazer me sobe pela espinha, quero mais. Preciso que aquele que habita minhas noites não me abandone. Sei que ele não fará isso. Não ele. Estamos presos no mesmo lapso. É tudo o que me resta na minha loucura.

Contemplo o espelho, a imagem me lembra um quadro do Caravaggio. Sombrio. Quero ver o futuro, mas é o passado que trago de volta e tenho medo. Justo porque o conheço é que tenho medo. Não deixei para trás as minhas dores. Não consigo seguir em frente com esse peso morto. Sei que estou pronta. Levo comigo as escoriações.

A sombra substitui o dia. Não tenho certezas, nunca tive. Procuro o tato do ar, tem alguma coisa ali que preciso alcançar. Não há mais tempo. Desequilibro, busco um apoio, volto para dentro do quarto, encaro meu armário. Anseio-te. Espero que a noite me preencha de vez.

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