quarta-feira, 30 de julho de 2008

A arte de imitar

Sammy Davis Jr. imitando vários monstros sagrados da música. Peguei a dica no site da Piauí. Sensacional.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ditados que aprendi com minha mãe ou Coisas de Anna

Por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento.

De onde

Dores que não sei de onde vêm, não sei mesmo se existem, mas eu sinto, não posso evitar, apesar de entender que é a minha imaginação, deve ser a minha imaginação, talvez falta de auto-estima, mas eu insisto que não estou louca, talvez eu tenha razão, embora não queira ter.

Compras

- O que você quer?
- Você.
- Isso não dá.
- Por que?
- Eu não tô à venda.
- Mas eu não quero te comprar.
- Você me quer de graça?
- Eu pensei que você não tava à venda.
- E não tô.
- Então.
- Mas também não tô de graça.
- Não entendi.
- Você tem que fazer alguma coisa para me ter.
- Muito complicado.
- É o preço.
- Acho que vou levar outra coisa, então.
- Dinheiro ou cheque?

Mais

Eu quero mais da vida do que toalha molhada e lençol amassado, eu quero mais do que botões e meias furadas, do que ver chuva caindo na terra, rio acima, rio abaixo, ou mato verde em dia ensolarado. Não quero estar dentro dos sapos ou acima das bananeiras. As alucinações chegam todos os dias.

Ventríloco

- Quem tá falando: eu ou você?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Biografia não-autorizada

No meio de um barraco de madeira minhas histórias apareceram soltas como a fumaça do cigarro. Eu me dissipava entre os raios que atravessavam a mesa onde o baralho e a minha sorte estavam abertos. Tenho muitas perguntas que não sei formular. Olho pela janela, mas não sei onde fica o norte. Talvez eu tenha que apelar para outro tipo de ajuda. Nem mesmo as cartas deram conta do meu destino. Caminho escutando os passos dos outros. As folhas continuam em branco, ainda que haja uma pauta para me guiar.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Conto off flip

Para quem me pediu, o conto abaixo foi o que enviei para o concurso da off flip e que me deu o terceiro lugar na categoria nacional. Feliz, muito feliz.

Ultra-sonografia

- Profissão?
- Tem uma resposta certa pra isso?
- Não entendi, senhora.
- Nada. Conga.
- O que, senhora?
- Conga, a mulher gorila. Essa é a minha profissão.
- Não tem no sistema, senhora.
- E daí?
- A senhora precisa dizer uma profissão que tenha no sistema, pra eu estar cadastrando sua ficha pra senhora estar fazendo o exame.
- Quer dizer que você não tem Conga, a mulher gorila no sistema e eu não posso fazer o exame?
- É que sem essa informação eu não posso estar liberando a sua ficha.
- Mas eu vou fazer uma ultra-sonografia transvaginal!
- Isso eu tenho no sistema.
- E o que interessa como eu ganho a vida pro cara que vai olhar dentro da minha vagina?
- É que a senhora vai estar entrando no nosso mailing.
- E o que significa isso?
- Que a senhora vai estar recebendo nossa mala-direta.
- Mas eu não quero! Diz aí que eu não quero receber coisa nenhuma. Agora eu posso fazer o exame?
- Não existe essa opção no sistema, senhora.
- Eu não posso dizer que não quero? Era só o que me faltava. E o meu direito de escolha?
- A senhora pode escolher não fazer o exame.
- Quer saber? É isso mesmo que eu vou fazer, pode cancelar. Esse exame é uma merda mesmo de fazer.
- Não dá mais, senhora. Se eu cancelar sua senha, vou acabar cancelando todas.
- Eu não quero nem saber. Aqui eu não fico mais. Não vou deixar um sujeito enfiar aquele troço dentro de mim pra filmar minha vagina do avesso se eu nem existo nessa porcaria que você preenche.
- A senhora é quem sabe, mas tem uma multidão lá fora na fila, que não vai gostar quando souber que o sistema parou porque a senhora quis cancelar seu exame.
- Eu não fiz nada com esse maldito sistema!
- Era só a senhora dizer uma profissão que tenha no sistema pra gente estar finalizando o cadastro.
- Mas eu não tenho outra profissão!
- E não tem nenhuma outra que a senhora possa dizer que tenha?
- Você ouviu o que eu falei?
- É que a senhora não precisa dizer, assim, exatamente.
- Agora você vai me dizer pra eu mentir pro sistema, é isso?
- Foi a senhora que disse.
- Isso é alguma pegadinha? Alguém tá filmando a gente?
- Não, senhora, sim, senhora.
- Agora eu me perdi.
- Não é uma pegadinha, mas tem gente filmando. Nós somos equipados com o sistema de segurança mais avançado da América Latina.
- Vai gostar de sistema assim.
- O que a senhora disse?
- Que eu quero fazer meu exame e não quero ouvir mais nada sobre sistema nenhum, você entendeu?
- Calma, senhora, não precisa se exaltar.
- Aperta alguma droga de botão aí e libera logo essa porcaria de exame ou eu não respondo por mim!
- Senhora, eu vou chamar a segurança!
- Pode chamar o papa ou o governador da Califórnia, que eu não saio daqui enquanto alguém não enfiar aquela porra daquele palito comprido com camisinha em mim!
- A senhora não pode entrar aqui! Segurança! Segurança!
- Aperta o botão!
- Senhora, o que está acontecendo?
- Aperta a porra do botão!
- Meu Deus! A senhora tá ficando peluda!